Ao escrever a minha coluna neste jornal, tive apenas a intenção de recordar uma nesga do meu dia a dia. Era então a ideia única, acender uma luz na escuridão de um passado distante. Qual não foi minha surpresa, ao constatar que o passado se tornara presente e me impelia para o futuro, entrelaçando infância, juventude e maturidade.
Considerei então, que era chegado o momento de depositar minha gota de orvalho no imenso reservatório dos sentimentos humanos. Na multidão das cores do reino vegetal, para mim a poesia é uma estação das flores; mas é no estágio destas que ele se prepara para os frutos. Encontro nas flores muito mais do que a beleza exótica das pétalas ou o encanto inebriante do perfume. Dentro da flor que embeleza e perfuma, ainda que prematuro, encontro o fruto que alimenta, e a semente que, em germinações sucessivas, garantirá o cultivo às gerações que hão de vir. Isso me imprime um cunho de cautela com as distorções, para que as sementes de joio não se confundam com o trigo, e degenerem as colheitas do futuro. Uma palavra; uma semente. Seus efeitos: A nutrição ou envenenamento de uma alma. Com o peso dessa conscientização a aumentar-me a calva e a encurvar-me os ombros, optei pelo leigo trovador, que ao bater à porta dos corações pede o gesto de um olhar amigo, o óbolo de um sorriso e a colhida de um fraterno amor…
Sei que as flores da simplicidade perfumam a nobreza dos que se contentam com o pouco, ou com o muito. Perdoem-me a ousadia de ofertar tão pouco a quem talvez tenha tanto para dar.